Benefício em dobroA vinda de Ricardo Leão de Andrade para o Pelotas, não só trouxe o benefício de dar ao Pelotas um profissional na área de preparação física de alta estirpe, como empresta ao clube o trabalho mais amplo de um profissional que domina toda a àrea no universo do futebol. Tenho acompanhado seu recente trabalho com o blog www.contextodotreino.blogspot.com.
Hoje vou reprisar aqui a sua segunda postagem. Leiam e analizem a qualidade do trabalho que Ricardo nos oferece:
OS MOMENTOS DO JOGO
Consideramos necessário esclarecer alguns aspectos fundamentais, como na publicação anterior em relação ao contexto, aos conceitos e à metodologia. É importante iniciar a conversa por este caminho, para que conteúdos futuros possam fazer mais sentido. É natural que os nossos leitores, principalmente os que se dedicam ao trabalho de campo no futebol, queiram ver a parte prática, o que será uma constante aqui. Entretanto, sem uma abordagem adequada, os exercícios e atividades de treino que pretendemos mostrar poderiam ficar descontextualizados.
Após compreender a relação entre matriz metodológica, matriz conceitual e o contexto, podemos abordar o jogo em sí, mais especificamente, os momentos do jogo. Há alguns anos os momentos do jogo de futebol tem sido identificados, a fim de se definir os principais critérios de ação, ou simplesmente princípios de jogo.
Durante muito tempo foram utilizadas apenas duas fases como referenciais para as ações das equipes, as fases ofensiva e defensiva. Posteriormente alguns treinadores passaram a identificar dois momentos de fundamental importância, merecedores de uma atenção especial. São as denominadas transições (defensiva e ofensiva).
No EC Pelotas, temos considerado a Bola Parada como um quinto momento no planejamento dos treinamentos e na construção de nosso Modelo de Jogo. Os momentos de Bola Parada requerem uma especial organização das equipes, uma organização bem diferente daquela que pode ser observada nos outros quatro momentos do jogo, o que justifica esta nossa opção.
O motivo de se distinguir tais momentos é definir o conjunto de princípios que serão priorizados em cada um deles. Para que se tenha sucesso no jogo, deve haver uma forte articulação entre os mesmos, evitando interferência negativas na manifestação do princípios. Em outras palavras, os princípios de cada momento devem ser harmoniosos intra e inter-momentos.
COM A BOLA - ORGANIZAÇÃO OFENSIVA
Este é o momento em que a equipe tem a bola controlada. Normalmente se atribui a este momento o princípio da posse e circulação, podendo esta ser feita de diversas formas, dependendo das ideias do treinador em conjunto com os jogadores que ele tem a sua disposição. Na atualidade a principal referência deste momento, em termos de posse é a equipe do FC Barcelona, que tem uma posse com critérios bem definidos, embora paradoxalmente seja uma equipe muito imprevisíivel pela velocidade, ritmo e qualidade que imprime na circulação da bola.
PERDA DA BOLA - TRANSIÇÃO DEFENSIVA
Configura o Momento em que houve a maior evolução do futebol atual. Hoje dificilmente uma grande equipe possui transições amenas, sem preocupação imediata em recuperar a bola. O principal objetivo das ações neste momento é pressionar o jogador que retomou a bola (pelo lado do adversário) afim de recuperá-la rapidamente, induzí-lo a um erro ou simplesmente atrasar a jogada, a fim de recompor a equipe defensivamente. Uma referência atual é a equipe do Universidade do Chile, atual campeão da Copa Sulamericana.
SEM A BOLA - ORGANIZAÇÃO DEFENSIVA
Momento em que a equipe não tem a posse da bola, e encontra-se em estado organizado para defender. Uma equipe bem treinada dificilmente sofre gols neste momento, daí a crescente importância da utilização das transições para marcar gols. Neste momento pode-se adotar diferentes formas de se defender. Citamos algumas como Individual, Individual por Setor, Zona e Zona pressionante.
RECUPERAÇÃO DA BOLA - TRANSIÇÃO OFENSIVA
Constitui um momento chave para a marcação de gols. Salientamos aqui a equipe atual do Real Madrid, que em transições ofensivas de alta velocidade consegue marcar muitos gols, aproveitando os segundos de desorganização adversária, em que espaços ainda se encontram abertos. Porém algumas equipes procuram valorizar a posse da bola para evitar novas transições e iniciar o processo de ataque organizado, e algumas trabalham com as duas formas escolhendo a melhor forma de acordo com o que cada situação do jogo sugere e proporciona.
BOLA PARADA
Este é um momento crucial e decisivo há anos no Futebol, sendo o responsável pelo sucesso ou fracasso de muitas equipes. Entretanto, uma dependência excessiva da Bola Parada para criar oportunidades e obter gols pode refletir uma falta de capacidade de aproveitamento dos demais momentos, principalmente de transição ofensiva.
EXEMPLO DE EXERCÍCIO:
Os exercícios podem evidenciar o jogo todo, ou alguns momentos, ou um momento em sí. Cada exercício poderá ter definições de nomenclatura diferentes de acordo com a metodologia, tais como específico, situacional, técnico, tático-técnico, físico-técnico, tático, setorial, intersetorial, grupal, coletivo, etc... O mais importante além desta conceitualização de nomenclatura é identificar dois aspectos:
Objetivo do exercício: Baseado no que se quer treinar.
Complexidade do exercício: Baseado em como se está e onde se quer chegar.
Para finalizar, vale a pena salientar que o jogo de futebol é um só como jogo. Não faz sentido dividí-lo em momentos, mas sim distinguir os momentos dentro do todo que é o jogo. Esta forma de ver o jogo nos capacita a identificar melhor os princípios de jogo, consubstanciados no comportamento dos jogadores. Entretanto, se ao invés de distinguir, dividimos o jogo em cinco momentos, este torna-se lento, perde fluidez. A lógica deve ser a de continuidade, e de velocidade de adaptação ao momento em que a equipe se encontra, evitando mudanças bruscas de situação. O que proporciona isso é a idéia de atacar pensando em defender e defender pensando em atacar, ou atacar e defender num mesmo momento, o que exige um grau de organização muito grande.
Grande abraço e Feliz ano novo!
Consideramos necessário esclarecer alguns aspectos fundamentais, como na publicação anterior em relação ao contexto, aos conceitos e à metodologia. É importante iniciar a conversa por este caminho, para que conteúdos futuros possam fazer mais sentido. É natural que os nossos leitores, principalmente os que se dedicam ao trabalho de campo no futebol, queiram ver a parte prática, o que será uma constante aqui. Entretanto, sem uma abordagem adequada, os exercícios e atividades de treino que pretendemos mostrar poderiam ficar descontextualizados.
Após compreender a relação entre matriz metodológica, matriz conceitual e o contexto, podemos abordar o jogo em sí, mais especificamente, os momentos do jogo. Há alguns anos os momentos do jogo de futebol tem sido identificados, a fim de se definir os principais critérios de ação, ou simplesmente princípios de jogo.
Durante muito tempo foram utilizadas apenas duas fases como referenciais para as ações das equipes, as fases ofensiva e defensiva. Posteriormente alguns treinadores passaram a identificar dois momentos de fundamental importância, merecedores de uma atenção especial. São as denominadas transições (defensiva e ofensiva).
No EC Pelotas, temos considerado a Bola Parada como um quinto momento no planejamento dos treinamentos e na construção de nosso Modelo de Jogo. Os momentos de Bola Parada requerem uma especial organização das equipes, uma organização bem diferente daquela que pode ser observada nos outros quatro momentos do jogo, o que justifica esta nossa opção.
O motivo de se distinguir tais momentos é definir o conjunto de princípios que serão priorizados em cada um deles. Para que se tenha sucesso no jogo, deve haver uma forte articulação entre os mesmos, evitando interferência negativas na manifestação do princípios. Em outras palavras, os princípios de cada momento devem ser harmoniosos intra e inter-momentos.
COM A BOLA - ORGANIZAÇÃO OFENSIVA
Este é o momento em que a equipe tem a bola controlada. Normalmente se atribui a este momento o princípio da posse e circulação, podendo esta ser feita de diversas formas, dependendo das ideias do treinador em conjunto com os jogadores que ele tem a sua disposição. Na atualidade a principal referência deste momento, em termos de posse é a equipe do FC Barcelona, que tem uma posse com critérios bem definidos, embora paradoxalmente seja uma equipe muito imprevisíivel pela velocidade, ritmo e qualidade que imprime na circulação da bola.
PERDA DA BOLA - TRANSIÇÃO DEFENSIVA
Configura o Momento em que houve a maior evolução do futebol atual. Hoje dificilmente uma grande equipe possui transições amenas, sem preocupação imediata em recuperar a bola. O principal objetivo das ações neste momento é pressionar o jogador que retomou a bola (pelo lado do adversário) afim de recuperá-la rapidamente, induzí-lo a um erro ou simplesmente atrasar a jogada, a fim de recompor a equipe defensivamente. Uma referência atual é a equipe do Universidade do Chile, atual campeão da Copa Sulamericana.
SEM A BOLA - ORGANIZAÇÃO DEFENSIVA
Momento em que a equipe não tem a posse da bola, e encontra-se em estado organizado para defender. Uma equipe bem treinada dificilmente sofre gols neste momento, daí a crescente importância da utilização das transições para marcar gols. Neste momento pode-se adotar diferentes formas de se defender. Citamos algumas como Individual, Individual por Setor, Zona e Zona pressionante.
RECUPERAÇÃO DA BOLA - TRANSIÇÃO OFENSIVA
Constitui um momento chave para a marcação de gols. Salientamos aqui a equipe atual do Real Madrid, que em transições ofensivas de alta velocidade consegue marcar muitos gols, aproveitando os segundos de desorganização adversária, em que espaços ainda se encontram abertos. Porém algumas equipes procuram valorizar a posse da bola para evitar novas transições e iniciar o processo de ataque organizado, e algumas trabalham com as duas formas escolhendo a melhor forma de acordo com o que cada situação do jogo sugere e proporciona.
BOLA PARADA
Este é um momento crucial e decisivo há anos no Futebol, sendo o responsável pelo sucesso ou fracasso de muitas equipes. Entretanto, uma dependência excessiva da Bola Parada para criar oportunidades e obter gols pode refletir uma falta de capacidade de aproveitamento dos demais momentos, principalmente de transição ofensiva.
EXEMPLO DE EXERCÍCIO:
Os exercícios podem evidenciar o jogo todo, ou alguns momentos, ou um momento em sí. Cada exercício poderá ter definições de nomenclatura diferentes de acordo com a metodologia, tais como específico, situacional, técnico, tático-técnico, físico-técnico, tático, setorial, intersetorial, grupal, coletivo, etc... O mais importante além desta conceitualização de nomenclatura é identificar dois aspectos:
Objetivo do exercício: Baseado no que se quer treinar.
Complexidade do exercício: Baseado em como se está e onde se quer chegar.
Para finalizar, vale a pena salientar que o jogo de futebol é um só como jogo. Não faz sentido dividí-lo em momentos, mas sim distinguir os momentos dentro do todo que é o jogo. Esta forma de ver o jogo nos capacita a identificar melhor os princípios de jogo, consubstanciados no comportamento dos jogadores. Entretanto, se ao invés de distinguir, dividimos o jogo em cinco momentos, este torna-se lento, perde fluidez. A lógica deve ser a de continuidade, e de velocidade de adaptação ao momento em que a equipe se encontra, evitando mudanças bruscas de situação. O que proporciona isso é a idéia de atacar pensando em defender e defender pensando em atacar, ou atacar e defender num mesmo momento, o que exige um grau de organização muito grande.
Grande abraço e Feliz ano novo!
Obrigado à você Ricardo!
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